Responsável pelos graves incêndios que consomem Los Angeles, o fenômeno da alternância rápida entre condições climáticas muito secas e extremamente úmidas está aumentando exponencialmente em todo o mundo por conta das mudanças climáticas em curso no planeta, segundo revela novo estudo publicado na revista científica Nature.
Essa alternância entre condições climáticas extremas causa muito mais impacto sobre a população do que eventos extremos isolados. Nos últimos anos, o fenômeno foi relacionado a graves enchentes na África, no Paquistão e na Austrália, e também pelo agravamento de ondas de calor na Europa e na China.
O novo estudo revelou que, desde meados do século 20, com a elevação das temperaturas, praticamente todo o planeta já experimentou alta de 31% a 66% desses eventos extremos alternados em intervalo curto de tempo. De acordo com os autores do novo trabalho, o fenômeno deve se agravar exponencialmente com o contínuo aquecimento do planeta, levando o aumento médio global da temperatura para muito perto de temerosos 3 ºC.
Uma atmosfera mais quente abriga mais vapor de água. Isso implica a ocorrência de grandes tempestades quando chove, mas também de seca mais intensa quando o clima está mais seco. Esse comportamento ocorre porque a atmosfera sedenta absorve mais água dos solos e das plantas.
Os cientistas compararam o efeito ao de uma esponja absorvendo água e, depois, a soltando quando apertada. Conforme as temperaturas globais aumentam, a esponja fica maior.
“O planeta vem aquecendo em ritmo linear, mas nos últimos cinco ou dez anos houve muita discussão sobre a aceleração dos impactos climáticos”, explicou Daniel Swain, do California Institute for Water Resources, um dos autores do trabalho, em comunicado.
“Esse aumento do fenômeno hidroclimático da alternância de eventos extremos, por meio da expansão da ‘esponja’ atmosférica, é uma boa explicação. Já há indícios abundantes de que essa crescente volatilidade hidroclimática será a assinatura das mudanças climáticas em praticamente todo o planeta”, acrescenta.
No ano passado, o Brasil também foi palco de eventos climáticos extremos, com a chuva sem precedentes que devastou o Rio Grande do Sul, a seca recorde que atingiu a maior parte do País, incluindo a Amazônia, e a escalada de focos de incêndio na floresta, no Pantanal e em outras partes, como o interior de São Paulo.
Segundo os cientistas, só uma redução drástica das emissões do efeito estufa em todos os setores da sociedade poderia limitar o aumento dos fenômenos extremos. Com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris – anunciada já no primeiro dia do governo de Donald Trump – , essa perspectiva parece cada vez mais distante. O acordo prevê reduções significativas das emissões de gases do efeito estufa para manter o aumento médio da temperatura global em, no máximo, 1,5ºC até 2050.
O novo estudo foi feito com base em uma revisão de centenas de trabalhos anteriores para determinar a tendência da alternância de eventos extremos opostos. Os incêndios de Los Angeles são o último exemplo do fenômeno, em que anos de seca severa foram seguidos de muita chuva e neve no inverno, o que levou ao aumento da vegetação. Então, um verão de temperaturas recordes e uma seca igualmente incomum no início da estação chuvosa fizeram toda a vegetação secar, propiciando os incêndios.
“O aumento rápido desses eventos de alternância de extremos climáticos secos e chuvosos tem grande impacto na produção de alimentos e também no gerenciamento de desastres, na resposta a emergências e no sistema público de saúde – todos eles desenhados para extremos do século 20”, escreveram os pesquisadores. Por isso, concluíram, o fenômeno deve ser levado em conta nas previsões de impactos de eventos climáticos.