No final do ano, costuma haver uma “escassez” de dólares no mercado brasileiro, em parte porque empresas remetem lucros e dividendos para o exterior. Em 2024, observou-se um aumento atípico desses envios, o que pressionou ainda mais a oferta de dólares. Aliado a uma possível desconfiança de investidores em relação à condução da política econômica, criou-se um ambiente de demanda excepcional pela moeda americana.
“Quando há uma busca incomum por dólar à vista —seja em decorrência de remessas de fim de ano, seja por saídas de investidores— o BC pode intervir, vendendo dólares diretamente ou ofertando linhas de crédito em dólar (leilões de linha) para dar fôlego ao mercado.”
— Roberto Campos Neto (presidente do BC até 2024)
Por que o Dólar Sobe no Fim do Ano?
- Remessas de Lucros e Dividendos: Empresas multinacionais enviam seus ganhos para as matrizes no exterior, reduzindo a quantidade de dólares disponíveis no Brasil.
- Desconfiança de Investidores: Caso haja incerteza sobre os rumos da política econômica, esses agentes podem decidir vender ativos financeiros brasileiros, comprando dólar para sair do país.
- Operações Especulativas: Se há expectativa de que o real vai desvalorizar ainda mais, outros agentes podem entrar em operações para lucrar com a alta do dólar, intensificando o movimento de saída.
Intervenções do BC: Formas e Motivações
1. Vendas de Dólares à Vista e Leilões de Linha
- Venda à Vista: O BC vende dólares diretamente no mercado para atender a uma demanda pontual de empresas ou bancos.
- Leilões de Linha: São vendas de dólares com compromisso de recompra futura, na prática, um empréstimo temporário de moeda estrangeira.
Objetivo: Fornecer liquidez (oferta de dólar) quando há um estrangulamento momentâneo. Assim, o BC tenta evitar altas muito bruscas e descoladas da realidade econômica.
2. Swaps Cambiais
Nos swaps cambiais, o BC não gasta reservas internacionais. Trata-se de um contrato derivativo, no qual o BC assume a variação do dólar e recebe a variação da taxa básica de juros (Selic).
- Por que usar swap?
- Para minimizar volatilidade excessiva no mercado futuro de dólar (bem maior que o mercado à vista).
- Para oferecer proteção a quem teme perda pela alta do dólar, sem mexer diretamente nas reservas internacionais.
- Para desencorajar especulações unilaterais (apostar só na alta, por exemplo).
Por outro lado, se usado em excesso ou se o mercado interpretar que o BC busca segurar o dólar num patamar específico, pode gerar desconfiança e pressionar as taxas de juros.
Quando Cogitar Intervir?
- Altas Súbitas: Se o dólar dispara de forma abrupta —por exemplo, em resposta a boatos ou a fluxos pontuais— o BC pode oferecer liquidez para amenizar oscilações bruscas.
- Descolamento dos Fundamentos: Quando a cotação do dólar passa a refletir mais especulação do que dados de contas externas, inflação ou situação fiscal.
- Risco de Espiral: Um dólar em alta pode elevar expectativas inflacionárias, aumentando juros, reduzindo o valor de ações e criando um ciclo de pessimismo. A intervenção evita que esse ciclo se amplie.
Tipos de Intervenção do BC
Tipo de Intervenção | Como Funciona | Recursos Usados | Objetivo Principal |
---|---|---|---|
Venda à Vista | BC vende dólares diretamente no mercado | Reservas Internacionais | Fornecer liquidez imediata |
Leilões de Linha | BC vende dólares com compromisso de recompra futura | Reservas Internacionais | Empréstimo temporário de moeda estrangeira |
Swap Cambial Tradicional | Contrato em que BC assume variação cambial e recebe variação da taxa Selic | Não usa reservas | Minimizar volatilidade sem gastar reservas |
Swap Reverso | BC assume variação da taxa de juros, recebendo variação cambial | Não usa reservas | Pode ser usado para amortecer quedas excessivas do dólar |
Opções de Câmbio (menos comum) | Contrato que dá ao BC o direito (mas não a obrigação) de negociar dólar a certo preço | Eventualmente não usa reservas | Proteger-se ou suavizar volatilidade |
Conclusão
A intervenção cambial do Banco Central não é trivial. Exige uma leitura precisa dos fundamentos da economia, dos fluxos pontuais de capital e da especulação nos mercados futuro e à vista. Em cenários sazonais, como o fim do ano —marcado por remessas de lucros e dividendos—, o BC pode optar por vender dólares diretamente ou recorrer a leilões de linha para conter flutuações abruptas. Já quando o movimento especulativo acontece principalmente no mercado futuro, o swap cambial é a ferramenta mais usada.
Dica Final: Acompanhar o fluxo cambial e as sinalizações do Banco Central ajuda a prever se haverá intervenções, qual o tipo de instrumento será usado e como o câmbio poderá reagir. Apesar de ser um regime de câmbio flutuante, a palavra-chave é liquidez: se o BC identifica distorções, tende a agir para manter o mercado funcional e evitar turbulências sistêmicas.