Os seres humanos modificam seu comportamento dependendo do que imaginam que outro ser humano sabe. Se eu estiver andando em Paris e precisar de uma informação, vou perguntar em francês. Isso porque sou capaz de criar uma teoria sobre que se passa na mente da outra pessoa.
Mesmo sendo brasileiro, e sabendo pouco francês, vou perguntar em francês pois minha mente consegue imaginar que uma pessoa em Paris provavelmente conhece o idioma. É isso que filósofos e psicólogos chamam de teoria da mente (Theory of Mind, ToM), a capacidade de nossa mente de criar uma teoria sobre o que se passa na mente de outro indivíduo e agir de acordo. E é essa capacidade que permite grande parte das atividades cooperativas e interações sociais sofisticadas.
É muito difícil demonstrar que um animal possui essa capacidade. Eles sabem, por exemplo, que um predador é perigoso e pode atacar. Ou porque já nasceram sabendo, ou porque foram condicionados através das experiências que tiveram no passado.
Mas nunca se conseguiu demonstrar que o comportamento de um animal depende do que ele imagina que o outro animal está pensando. Por isso, dizemos que eles não possuem uma teoria da mente. Mas agora um experimento simples conseguiu demonstrar que os macacos Bonobos (os mais semelhantes a nós) conseguem agir com base no que imaginam que sabemos. O experimento foi feito e repetido com três animais em cativeiro e exigia que um humano cooperasse com o macaco para ele obter um doce.
Um macaco foi colocado sentado numa mesa de frente a um ser humano. Na mesa, havia três copos invertidos. Um segundo cientista, sentado na cabeceira da mesa, coloca um doce embaixo de um dos copos. O macaco sempre vê em que copo o doce está, mas não consegue pegá-lo, pois está longe dos copos.
Para pegar o petisco, o macaco necessita da ajuda da pessoa que está na sua frente. A pessoa fica olhando os copos, mas não se mexe. Logo o macaco aprende a indicar o copo onde está o doce. Quando ele indica o copo com a mão, o cientista levanta o copo e dá o doce para o macaco. Esse é o experimento básico. Os cientistas medem quantas vezes e por quanto tempo o macaco indica o copo.
Aí vem o experimento propriamente dito. No caso acima, tanto o macaco quanto o humano podem ver em que copo o doce está escondido. E essa situação é apresentada em metade dos casos. Na outra metade, um pedaço de madeira (um anteparo) é colocado entre a pessoa e o copo durante o tempo em que o doce é colocado sob o copo.
Nesses casos o macaco vê, e portanto sabe, em que copo o doce está escondido, mas o cientista, sentado na sua frente, não vê e não sabe onde está o doce. O macaco sabe que a visão do cientista está bloqueada. Aí a madeira é retirada e o cientista fica esperando o macaco indicar o copo onde está o doce, para então levantar o copo e dar o doce ao macaco.
O que os cientistas observaram é que em ambos os casos (quando o humano sabe, ou quando não sabe onde está o doce) o macaco indica o copo correto (pois ele sempre sabe onde está o doce). Mas, quando somente o macaco sabe onde está o doce (doce colocado com anteparo), ele gesticula em direção ao copo mais vezes e por mais tempo. Quando os dois sabem onde está o doce (doce colocado sem anteparo) o macaco sinaliza o copo com menos ênfase e por menos tempo.
Esse resultado demonstra que o macaco (nos casos com anteparo) sabe que o cientista não sabe onde está o doce e portanto deve imaginar que o cientista precisa de mais ajuda para levantar o copo correto. Essa deve ser a razão para o macaco indicar o copo mais vezes por mais tempo.
Isso demonstra que o macaco sabe que o cientista não sabe onde esta o doce. Ou seja, o macaco criou uma teoria sobre o que está presente na mente do ser humano com o qual está cooperando. Ele possui a capacidade de ter uma teoria sobre a mente de outro ser vivo.
Este é o primeiro experimento que demonstra, em um animal não humano, a capacidade de construir uma teoria da mente de outro ser vivo. Um experimento simplíssimo que demonstrou um fato importantíssimo sobre a mente dos bonobos. Que outros animais possuem essa capacidade? Você pode tentar repetir o experimento com seu cachorro.