Reitoria, Prefeitura Universitária e Superintendência de Obras abordam o desafio
A escalada das ondas de calor dos últimos meses movimentou o debate na UFABC sobre alternativas para reduzir o impacto das altas temperaturas nos espaços de aula e de trabalho na Universidade. Essa tendência de períodos de calor acentuado tem sido uma constante nos últimos anos e tende a permanecer também nos próximos.
Pela importância para a comunidade, o assunto foi pautado pela Reitoria na I Reunião Ordinária do Comitê Estratégico de Sustentabilidade (CES) da UFABC, realizada no último 26 de março, e contou com apresentações da Prefeitura Universitária (PU) e da Superintendência de Obras (SPO), além de um pronunciamento introdutório sobre o tema, conduzido pela vice-reitora e presidente do CES, Mônica Schröder. As entidades representativas da UFABC foram especialmente convidadas para a reunião e cabe destacar que a discussão contou com participação ativa da Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC (ADUFABC).
Os objetivos dessa discussão foram, de um lado, prestar contas sobre as ações executadas e planejadas no curto prazo acerca do conforto térmico na UFABC e, de outro lado, refletir no órgão colegiado sobre as possibilidades e as responsabilidades na busca de soluções sustentáveis no médio prazo.
A PU traçou um panorama dos investimentos já feitos e planejados para ampliar, manter e modernizar os sistemas de refrigeração da Universidade, apresentando os atendimentos priorizados desde o ano de 2023.
A SPO, por sua vez, abordou o tema sob a ótica dos projetos arquitetônicos dos dois campi, detalhando as concepções desses projetos, o fato da eficiência energética ter sido uma variável estruturante dos mesmos e os desafios para as melhorias da climatização a partir de uma infraestrutura já estabelecida.
A vice-reitora da Universidade, Mônica Schröder, defendeu no CES, complementando a pertinência dos trabalhos realizados pela PU até o momento, que o enfrentamento da questão da climatização deve ir além da instalação de novos aparatos de refrigeração.
“Devemos então pensar em alternativas de climatização, como sombreamento das árvores e melhorias da ventilação”, disse. “Podemos também discutir se devemos definir um protocolo para eventos climáticos extremos com as IFES paulistas ou, até mesmo, com todas as universidades públicas de São Paulo”, sugeriu. “Portanto, nosso propósito, ao iniciar a discussão sobre a temática no CES, é o de formular as perguntas corretas para nos organizarmos de forma estratégica, e também taticamente, porque temos implicações no planejamento estratégico, orçamentário e administrativo da UFABC”, concluiu.
Veja mais sobre o pronunciamento da vice-reitora na reunião do CES:
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano de 2024 foi o mais quente da história, e 2025 dá indícios de que será tão ou mais escaldante que o anterior. Daí a necessidade de atualizar o debate coletivo sobre medidas que tratem do conforto térmico da comunidade universitária, no contexto contemporâneo e das responsabilidades institucionais e individuais com a sustentabilidade de tais medidas.
Depois das apresentações, as pessoas participantes trouxeram dúvidas, fizeram perguntas e sugestões, dialogando com a Reitoria, a PU e a SPO.
O tema seguirá em debate no CES, e a comunidade universitária está convidada a acompanhar as reuniões. Será fundamental o Comitê avaliar, simultaneamente à instalação de novos equipamentos de refrigeração, ações compensatórias, pois os sistemas de ar condicionado são intensivos em uso de energia e em emissões de gases de efeito estufa, o que impacta a eficiência energética e a gestão sustentável da UFABC.
Ações da PU
Durante sua apresentação no CES, a PU, representada pelo prefeito universitário, Daniel Lot, destacou que, atualmente, a UFABC possui mais de 2700 unidades de equipamentos de ar condicionado e que os custos anuais com contrato de manutenção destes equipamentos gira em torno de R$1,2 milhões.
A PU indicou também que já ampliou e planeja ampliar ainda mais o contrato de manutenção dos sistemas de refrigeração da Universidade e mencionou que já está em andamento a aquisição e a instalação de novos aparelhos de ar condicionado e a modernização dos sistemas de refrigeração em atividade. A Universidade já tem vigentes as atas de registro de preços – documento oficial que baliza compras nas instâncias públicas – para adquirir aparelhos de ar-condicionado que têm de 18 mil a 60 mil BTUs (British Thermal Unit, unidade de medida que determina a capacidade de resfriamento dos aparelhos), e também mais ventiladores e bebedouros.
Desde 2023, a Prefeitura Universitária vem realizando a instalação de várias máquinas de ar condicionado, de acordo com a seguinte priorização:
- Laboratórios didáticos, tendo as prioridades sido definidas em conjunto com a CLD/PROGRAD, de modo a garantir conforto térmico para discentes, docentes, técnicas e técnicos em função das exigências quanto ao uso de EPI durante as atividades didáticas;
- Diferentes áreas administrativas e de atendimento à comunidade universitária, dada a jornada de trabalho de técnicas e técnicos;
- Áreas de telecom, visando à segurança no funcionamento dos equipamentos ali instalados, que garantem os sistemas informacionais, e à redução do seu custo de manutenção, com efeito positivo no orçamento de custeio da Universidade.
Os laboratórios didáticos terão os aparelhos instalados ainda neste primeiro semestre: os recursos empenhados, na ordem de meio milhão de reais, no final de 2024, permitiram a aquisição de 35 equipamentos de 60 mil BTUs e de quatro equipamentos de 36 mil BTUs, sendo possível ampliar as aquisições e atender mais laboratórios à medida em que a UFABC receber mais recursos de investimentos em 2025.
Foram instaladas ainda 14 máquinas de 18 mil BTUs, sendo nove em áreas de telecom e cinco em áreas diversas de trabalho administrativo e atendimento acadêmico. Atualmente, a PU trabalha na instalação de mais 15 aparelhos de 24 mil BTUs – cinco em áreas de telecom e dez em outras áreas de trabalho. Ainda em 2024, o projeto de eficiência energética, implantado nos dois campi da UFABC em parceria com a Enel, contemplou a instalação de 18 equipamentos de ar-condicionado, especialmente em áreas de telecom da Universidade, e também em áreas de atendimento acadêmico da PROAP, entre outros espaços.
O Retrofit, como é chamado o processo de modernização dos sistemas centralizados de ares-condicionados, começou neste mês, iniciando pelo térreo, 1º e 2º andares da Torre 1 do Bloco A. A escolha desses andares se deve ao caráter piloto do projeto: o sistema presente nessa área é um dos mais críticos em termos de falhas históricas, mas também um dos mais simplificados em termos de acesso estrutural de manutenção, o que facilita a execução e validação da modernização antes da expansão para outros espaços.
O objetivo é aumentar a eficiência dos equipamentos, com atualização para as versões mais modernas. O novo sistema reaproveita parte da estrutura existente, evitando novas obras, permitindo a reutilização das peças e reduzindo os gastos. Vale lembrar que este processo é uma inovação levada à frente pela PU e a expectativa é que, após sua conclusão e medição dos resultados, será possível replicá-la em outros espaços da Universidade, enfrentando as limitações estruturais existentes. Espera-se replicar a mesma metodologia nos Blocos B e L do campus Santo André, e também no campus SBC, especialmente no Bloco Delta.
Projeto arquitetônico
Durante a reunião da CES, Lucas Torin, gestor da Superintendência de Obras (SPO) na UFABC, fez uma apresentação tratando sobre o tema do conforto térmico com enfoque nas concepções dos projetos arquitetônicos dos dois campi, Santo André e São Bernardo do Campo. A relevância de envolver a SPO neste debate ocorre em virtude de uma realidade que lida com a intensificação dos efeitos do aquecimento global, como o aumento das as ondas de calor percebido nos últimos anos, um cenário não previsto nos projetos originais dos campi. Assim, suas estruturas não foram pensadas para as altas temperaturas atuais, o que exige revisão nos critérios de planejamento.
De acordo com a SPO, os projetos de ambos os campi contemplaram ações que mitigam a sensação de calor e asseguram a eficiência energética, dentro dos parâmetros de temperatura previstos à época. No campus São Bernardo, a orientação dos edifícios (a chamada “face norte”) maximiza a captação de luz e calor no inverno e a minimiza no verão, e a ventilação cruzada permite a circulação natural do ar dentro das edificações. Outros itens, como o uso de materiais térmicos, beirais, persianas, cobogós e jardins internos, contribuem para atenuar os efeitos das altas temperaturas dos períodos mais quentes do ano.
Em Santo André, as construções levam em conta as condições de latitude e de topografia, visando a uma arquitetura bioclimática que controla iluminação, ventilação e insolação térmica. Os Blocos A e B possuem brises para controle da incidência solar.
Emergência climática, ondas de calor e conforto térmico: um desafio global
Além de debater soluções para o conforto térmico em seus campi, a UFABC também amplifica a discussão sobre as mudanças climáticas sob a perspectiva científica.
No episódio “Ondas de Calor” do podcast “E eu com isso? Fala, cientista!“, a professora María Valverde — docente da UFABC, com histórico de atuação como pesquisadora do INPE — explica os impactos do aquecimento global no dia a dia, o papel do Brasil na COP 30 e caminhos para um futuro sustentável.