Na quarta manifestação de rua convocada desde que deixou o Planalto, o ex-presidente Jair Bolsonaro se defendeu ontem da acusação de tentativa de golpe, da qual pode se tornar réu ainda este mês, pediu aos apoiadores para “continuarem lutando” caso alguma “covardia aconteça” e disse ter angariado apoios na Câmara para aprovar a anistia aos condenados pelos ataques do 8 de Janeiro. A liberação dos presos foi a principal pauta do ato em Copacabana, Zona Sul do Rio. Ao falar sobre apoios, Bolsonaro fez um gesto a Gilberto Kassab e afirmou que o presidente do PSD “está do nosso lado”.

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Procurado, Kassab não respondeu, mas nos bastidores tem admitido que parte da bancada da sigla votaria a favor da anistia e que o sentimento na Câmara é de possibilidade de avanço, embora o tema enfrente maior resistência no Senado.

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Já o PL, do ex-presidente, disse que vai apresentar na quinta-feira pedido de urgência na tramitação do projeto, o que, na prática, leva o texto direto ao plenário da Casa.

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— Todos os partidos estão vindo — afirmou Bolsonaro, o último a discursar. — Há poucos dias, tinha um velho problema e resolvi com o (Gilberto) Kassab, em São Paulo. Ele está ao nosso lado com a sua bancada para aprovar a anistia em Brasília.

Parlamentares do PSD ouvidos pelo GLOBO afirmam que a bancada não é unânime. O PL é o maior partido da Câmara, com 92 deputados, e o PSD tem 44. Para o projeto de lei ser aprovado ele precisa de maioria simples — metade mais um, mas com quórum mínimo de 257 deputados.

— Todos vimos que o presidente Kassab conversou com Bolsonaro sobre anistia. Contudo, ele é mais arguto que todos nós juntos, e sabe que a bancada tem opiniões divididas sobre o tema — afirmou o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ).

Em busca de apoio ao projeto de anistia, Bolsonaro deixou de lado os ataques e teve uma conversa reservada com Kassab no mês passado, em São Paulo. A aproximação entre os dois também tem como pano de fundo a sucessão do governo de São Paulo: caso Tarcísio tenha a benção do ex-mandatário para se candidatar à presidência, Kassab, que é o seu secretário de Governo, é um dos cotados na corrida à sucessão estadual.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que vai pedir regime de urgência ao projeto:

— Quinta-feira, na reunião de colégio de líderes, nós vamos dar entrada, com minha assinatura, dos 92 deputados do PL e de vários outros partidos — e que eles vão ficar surpresos — para que nós possamos pedir a urgência do projeto da anistia para entrar na pauta na semana que vem.

Bolsonaro reuniu quatro governadores, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Cláudio Castro (PL-RJ). Jorginho Mello (PL-SC) e Mauro Mendes (União-MT) foram, mas não discursaram. Segundo organizadores, ao menos nove senadores e 43 deputados federais estiveram presentes no ato, além de deputados estaduais, vereadores e lideranças. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se ausentou por ter passado por cirurgia estética há duas semanas e ainda estar com pontos. A vice do PL Mulher, Priscila Costa, que a representou, puxou coro de “Michelle, Michelle” ao discursar. A ex-primeira-dama é citada como opção à Presidência diante da inelegibilidade de Bolsonaro, que prefere lançá-la ao Senado.

Além de inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro pode se tornar este mês réu por uma trama golpista para permanecer no poder. Ele e outras 33 pessoas foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga se aceita ou não a denúncia a partir de 25 de março.

Bolsonaro foi o último a falar e fez o discurso mais longo do dia. Citou histórias de pessoas presas pelos ataques antidemocráticos de 2023 e levou para o palco a família de Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como “Clezão”, que morreu em novembro de 2023, após um mal súbito no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Sua defesa havia pedido a conversão da pena em prisão domiciliar, mas a análise ainda não havia sido feita pelo STF.

— Quem é ou foi a liderança dessas pessoas? Não tiveram. Elas foram atraídas para uma armadilha — disse Bolsonaro. — Só não foi perfeita esta historinha de golpe para eles porque eu estava nos EUA. Se eu estivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto.

O ex-presidente também voltou a questionar sua derrota nas urnas, em 2022. Alegou que enchia manifestações “até maiores que essa”, que “estava com o agro 100% fechado” e que aumentou os valores do Bolsa Família.

— Nosso governo fez seu trabalho. Por que perdeu a eleição? — questionou.

A lista de discursos incluiu ainda o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o líder nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o pastor Silas Malafaia. Entre os parlamentares, discursaram o senador Magno Malta (PL-ES) e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Rodrigo Valadares (União-SE), relator do PL da anistia. Houve no carro de som críticas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes e falas em defesa de Bolsonaro como candidato em 2026.

Governador de São Paulo e cotado para substituir Bolsonaro nas urnas, Tarcísio de Freitas afirmou que é “correto garantir a anistia para aqueles que nada fizeram” e defendeu Bolsonaro nas urnas.

— Qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas? É medo de perder a eleição? Eles sabem que vão perder. Estamos aqui para exigir a anistia dos que receberam penas desarrazoadas — disse.

Já Cláudio Castro destacou que o estado do Rio deu mais de 60% de votos a Bolsonaro, a quem tratou como “seu único candidato”. Nikolas Ferreira criticou o STF e citou Moraes, que foi vaiado. Ele afirmou que o magistrado “não tem um voto” e “tem decidido a vida de pessoas”.

O pastor Silas Malafaia, organizador do evento e pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmou que Moraes é “criminoso”. Como nos outros eventos, coube a ele as críticas mais pesadas direcionadas ao STF: criticou o inquérito das Fake News, a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e as provas coletadas que embasaram a denúncia da tentativa de golpe.

A manifestação foi o primeiro grande evento de Bolsonaro ao lado de Valdemar. Por serem investigados no inquérito da trama do golpe, os dois passaram um ano e um mês sem contato, mas Moraes revogou as cautelares contra Valdemar, que não foi denunciado pela PGR. O cacique falou da alta dos preços e pediu “Volta Bolsonaro”.

A oposição reagiu nas redes. A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, rebateu a declaração de Tarcísio, que durante discurso questionou se a inelegibilidade de Bolsonaro seria por “medo de perder eleições” dos adversários.

“Não é Lula que tem medo de perder, governador Tarcísio. É Bolsonaro que tem medo da prisão”, escreveu.

Aliados de Lula ironizaram o ato. Além da estimativa de público, abaixo de manifestações anteriores, compartilharam imagens que mostram o ex-presidente em cima do carro de som com uma faixa de “sem anistia” fixada em um apartamento ao fundo

“Uma imagem vale mais do que mil palavras”, disse o senador Humberto Costa (PE), presidente interino do PT.

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