As alterações climáticas, que já provocam vários problemas na Terra, devem causar em breve problemas também ao redor do planeta. Esta é, pelo menos, a conclusão de um novo estudo assinado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e publicado nesta segunda-feira, 10, na revista Nature Sustaintability.
De acordo com o novo trabalho científico, a redução do espaço disponível para satélites em órbita da Terra pode chegar a 82% até o fim deste século, dependendo do volume de poluentes lançados na atmosfera terrestre nas próximas décadas. Isso porque a atmosfera se tornará mais propensa a acumular lixo espacial, o que ameaça o funcionamento dos satélites.
Parte do efeito estufa que aquece o ar perto da superfície do planeta também resfria as camadas superiores da atmosfera (à medida que mantém o calor retido no planeta), a região onde o espaço começa e os satélites orbitam. Esse resfriamento também torna a camada superior da atmosfera menos densa, o que reduz a capacidade da Terra de atrair o lixo espacial de volta para o planeta.
Em geral, boa parte desses detritos é dragada para a Terra e queima ao penetrar a atmosfera. O resfriamento, no entanto, retarda esse processo de limpeza.
Estudos recentes já demonstraram que, a 400 quilômetros do planeta, a densidade vem diminuindo num ritmo de 2% a cada década e, provavelmente, deve se intensificar à medida que o lançamento de gases estufa na atmosfera aumenta.
”Dependemos da atmosfera para limpar nossos detritos. Não há outra maneira de remover o lixo espacial”, afirmou o principal autor do estudo, Will Parker, pesquisador de astrodinâmica do MIT.
De acordo com a The Aerospace Corporation, que monitora detritos orbitais, em volta da Terra, há milhões de detritos de apenas três milímetros, que podem colidir com satélites com a energia de uma bala. Há outros, do tamanho de ameixas, que podem atingir um satélite com a potência de um ônibus em queda.
Atualmente, existem 11.905 satélites em órbita da Terra – 7.356 deles em órbitas mais baixas -, segundo o site de rastreamento Orbiting Now. Os satélites são essenciais para as comunicações, navegação, previsão do tempo, monitoramento de questões ambientais, segurança nacional, entre outras aplicações.
“Havia essa ideia de que não precisamos ser necessariamente bons administradores do meio ambiente porque nosso espaço é basicamente ilimitado”, afirmou Parker. “A colisão entre dois satélites em 2009 produziu milhares de detritos de lixo espacial. As medições da Nasa indicam que há uma redução mensurável do efeito de atração desse lixo espacial. Com isso, cientistas estão percebendo que o componente da mudança climática é realmente importante nesse processo.”
A cientista Ingrid Cnossen, da British Antarctic Survey, que não participou da pesquisa, afirmou que o novo trabalho “faz todo sentido” e, por isso, os cientistas precisam estar cientes dos impactos orbitais do aquecimento global “para que medidas apropriadas possam ser tomadas”./ THE ASSOCIATED PRESS