Democratas tiveram de deixar o local. Deputado do Texas, Al Green se recusou a sentar e gritava “ele não tem mandato”. O discurso de Trump foi interrompido para o parlamentar sair escoltado pela segurança. Na sequência, a fala foi novamente interrompida, com a saída do deputado Maxwell Frost, que vestia uma camisa com a mensagem “Nenhum rei vive aqui”.
Republicano lamentou falta de aplausos e sorrisos de opositores. “Olho para os democratas na minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes ou ficarem de pé, sorrir ou aplaudir”, disse o republicano em outro momento, enquanto a oposição segurava cartazes contra ele com os dizeres “Falso”, “Isto não é verdade”, entre outros.
Trump falou por cerca de 1h40. Ele quebrou o recorde de discurso mais longo em uma sessão conjunta do Congresso.
O que Trump disse
Começou o discurso defendendo as mudanças das primeiras semanas de governo e disse que está apenas começando. “Eu retorno a esta câmara esta noite para relatar que o impulso da América voltou. Nosso espírito voltou. Nosso orgulho voltou. Nossa confiança voltou”, afirmou.
Chamou Joe Biden, seu antecessor, de pior presidente da história dos EUA. “Havia centenas de milhares de travessias ilegais por mês, incluindo assassinos, traficantes, membros de gangues e pessoas de hospícios e asilos para loucos. Eles eram liberados para nosso país”, afirmou.
Comemorou a ofensiva contra medidas de diversidade. “Acabamos com a tirania da chamada ‘diversidade, equidade e inclusão’ em todo o governo federal e no setor privado e forças militares”. Trump também falou que retirou o “veneno” da teoria de raças no país e ressaltou o decreto que reconhece apenas os gêneros masculino e feminino na administração federal.
Chamou Acordo de Paris de ridículo e OMS de corrupta. Ele celebrou a retirada do país do acordo que procura frear o aumento da temperatura provocada pelo aquecimento global, da OMS e do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). Trump também comemorou o desmantelamento da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).
Agradeceu a Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental. O dono do X levantou da cadeira e foi aplaudido pelos republicanos no Congresso. Democratas seguravam cartazes com a frase “Musk rouba”.
Voltou a citar o Brasil entre os países que taxam os EUA de forma que considera injusta. “Outros países têm usado tarifas contra nós por décadas, e, agora, é a nossa vez de começar a usá-las contra esses outros países”. Também citou Mèxico, Canadá, Índia, China e Coreia do Sul.
Defendeu sua política tarifária como forma de garantir o crescimento do país. “As tarifas farão a América mais rica de novo”, afirmou. A expectativa é que isso aconteça rapidamente, disse Trump.
Anunciou sistema tarifário recíproco. A medida passa a valer no dia 2 de abril.
Reforçou ao discurso contra Canadá e México. Trump alega que os vizinhos permitem a entrada da droga fentanil no país. “Eles permitiram a entrada de fentanil em nosso país em níveis nunca vistos antes, matando centenas de milhares de nossos cidadãos. Pagamos subsídios para o Canadá e o México em centenas de bilhões de dólares. Os EUA não vão mais fazer isso”.
Apresentou um decreto que renomeia uma reserva animal em homenagem a uma adolescente assassinada. O republicano utilizou o caso para reforçar o discurso contra a imigração, já que dois imigrantes irregulares são acusados do crime.
Criticou o apoio à Ucrânia e defendeu um acordo de paz. “É hora de parar essa loucura”, disse. Ele afirmou ainda que os americanos gastaram mais que os europeus para apoiar o país contra a Rússia. “EUA mandaram centenas de bilhões de dólares para apoiar a Ucrânia, sem nenhuma segurança. Vocês querem mais cinco anos disso? Enquanto isso, a Europa gastou mais dinheiro comprando petróleo e gás russos, do que na defesa da Ucrânia”.
Mencionou uma carta em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, faz afagos após a briga da última sexta-feira. “Nossa reunião em Washington não foi do jeito que deveria”, escreveu Zelensky no X. “Meu time e eu estamos prontos para trabalhar sob a liderança forte do presidente Trump para chegar a uma paz duradoura.”
O presidente dos EUA também reforçou o desejo de assumir a Groenlândia e o Canal do Panamá. “Precisamos da Groenlândia para a segurança nacional e até mesmo para a segurança internacional, e estamos trabalhando com todos os envolvidos para tentar obtê-la. De uma forma ou de outra, vamos obtê-la”.
Como foi o bate-boca com Zelensky
Reunião debateria um acordo sobre a guerra contra a Rússia. Trump e Zelensky se encontraram na última sexta-feira (28) e travaram uma discussão acalorada.
Encontro selaria acordo. O plano era que fosse assinado de um acordo de exploração de recursos minerais ucranianos e que a Ucrânia aceitasse a proposta dos EUA de cessar-fogo contra a Rússia. EUA consideravam o texto um pagamento pelo apoio financeiro e militar dispensado a Kiev nos três anos de guerra.
Trump afirmou que Zelensky tinha que “ser grato”. O ucraniano insistiu que os EUA precisavam dar um respaldo de segurança a qualquer força de paz europeia enviada após um acordo de cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia. “Isso é crucial”, disse Zelensky na Casa Branca.
“Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”, afirmou Trump a Zelensky. O presidente norte-americano também voltou a sugerir que a Ucrânia é a culpada pela invasão russa, ao afirmar que o ucraniano “se permitiu ficar em uma posição muito ruim”
Trump também afirmou que Zelensky rompeu acordos com Obama, Bush e Biden. “Não sei se você consegue sem os EUA. O seu povo é muito corajoso. Podemos ter um acordo ou a gente sair dessa. E não vai ser bonito se a gente sair dessa. Você não está com as cartas”.
Após a discussão, o acordo não foi assinado. A coletiva de imprensa que havia sido agendada foi cancelada e o presidente ucraniano foi orientado a deixar Casa Branca depois do episódio.
Líderes europeus saíram em defesa do ucraniano. Chefes de Estado da França, Espanha, Portugal, Polônia e a presidente da União Europeia prestaram apoio ao presidente ucraniano depois da reunião. No fim de semana, houve um encontro entre membros da Otan em Londres para debater a situação ucraniana.
O bate-boca no Salão Oval deixou Zelensky em posição de vulnerabilidade internacional. A tensão se acirrou ontem, quando Zelensky disse que um acordo para acabar com a guerra entre Ucrânia e Rússia “ainda está muito, muito distante” e Trump rebateu dizendo que o o ucraniano “não quer a paz”. À noite, fontes da Casa Branca confirmaram a jornalistas de diversos veículos que a ajuda militar à Ucrânia seria temporariamente interrompida.
Hoje, Zelensky afirmou que está pronto para trabalhar sob a liderança de Trump. Ele também classificou como lamentável o bate-boca na Casa Branca.
Imposição de tarifas a Canadá, México e China gera tensão
Tarifas impostas por Trump entraram em vigor hoje. Canadá, México e China anunciaram retaliação.
Produtos importados de Canadá e México terão tarifas de 25%. Isso pode representar um aumento nos preços de produtos básicos como o abacate, de outros como a cerveja ou a tequila, e inclusive de carros produzidos em solo mexicano.
No caso da China, a taxação adicional chega a 20%. Pequim anunciou que vai impor taxas suplementares de 10% e 15% sobre vários produtos alimentícios dos EUA, como soja, trigo e frango.
Trump pressionou Canadá e México com as tarifas para que aumentassem a vigilância de suas fronteiras. Os dois países implementaram medidas no último mês, mas o magnata republicano não ficou satisfeito e as tarifas foram implementadas.Os detalhes da retaliação mexicana serão revelados no próximo domingo (9). “Decidimos responder com medidas tarifárias e não tarifárias que vou anunciar em praça pública”, declarou a presidente Claudia Sheinbaum.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que as novas tarifas contra os EUA entrarão em vigor amanhã. Serão aplicadas tarifas de 25% sobre 155 bilhões de dólares [R$ 906 bilhões] em bens americanos.
O trabalho do DOGE
DOGE é o Departamento de Eficiência Governamental. Liderado pelo homem mais rico do mundo, está desmantelando agências governamentais, reduzindo a força de trabalho federal e obtendo acesso a dados confidenciais do governo. Tudo, segundo o departamento, em uma tentativa de “restaurar a democracia”.
Serviço, no entanto, é alvo de escrutínio judicial. Tribunais estão analisando se as ações do órgão violam as leis de privacidade, os direitos dos funcionários federais e os controles e equilíbrios da Constituição.
DOGE é alvo até mesmo de críticas de republicanos. O departamento agiu tão rapidamente que está sendo alvo de críticas de alguns republicanos. A preocupação é que os serviços básicos do governo e a manutenção de ameaças contra o país acabem prejudicados. Os responsáveis pela manutenção das armas nucleares dos Estados Unidos, por exemplo, foram demitidos e, depois, recontratados às pressas.
*Com informações da AFP e Estadão Conteúdo.