Você já deve ter batido numa parede para descobrir se ela é sólida ou oca. Isso funciona pois o som produzido pela batida se propaga de maneira diferente dependendo do material que ele atravessa. Esse mesmo princípio permite que os aparelhos de ultra-som produzam imagens de crianças ainda no útero. O som penetra no corpo da mulher e reflete de forma diferente dependendo da dureza da estrutura que encontra. A peça que o médico encosta na barriga, além de emitir o som, capta seu retorno. E um computador usa esses dados para produzir a imagem do feto.

Esse princípio também é usado pelos físicos e geólogos para estudar o interior do nosso planeta. Nesse caso, o som é produzido por um terremoto, se propaga em direção ao centro da Terra, e emerge em diversos locais. O equipamento que capta o som que atravessou a Terra são os sismógrafos, instalados em vários locais do planeta.

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Foi usando esse método que descobrimos a estrutura interna de nosso planeta. Se você pudesse viajar em direção ao centro do planeta, primeiro atravessaria uma fina crosta sólida onde vivemos (com uma espessura de 30 a 65 km), que flutua sobre uma camada líquida chamada manto (de aproximadamente 2.900 km de espessura). O manto é quente e composto de rocha derretida. É esse material que sai dos vulcões que entram em erupção.

Atravessando todo o manto, e prosseguindo em direção ao centro, as temperaturas vão aumentando e você chega na parte exterior do core, composta de metais pesados como ferro e níquel na forma líquida. Se você atravessar os 2.300 km dessa camada, chega ao core, uma bola sólida de ferro e níquel com um diâmetro de 2.400 km, extremamente quente (5.200 graus Celsius) que só não derrete por causa da pressão.

Nas últimas décadas foi demonstrado que o core roda junto com o resto do planeta mas possui uma certa independência. Às vezes ele roda um pouco mais rápido, às vezes um pouco mais devagar.

A novidade agora foi a demonstração que essa enorme bola sólida e quente muda de formato. E essas mudanças ocorrem ao longo de períodos curtos de tempo, por volta de um ano.

Essas mudanças foram descobertas quando os cientistas analisaram sons de terremotos relativamente fracos que ocorreram nas Ilhas Sandwich do Sul, entre a ponta sul da América do Sul e a Península Antártica. Foram estudados 179 pares de dados originados de terremotos que ocorreram entre 1991 e 2023. As ondas sísmicas produzidas por esses terremotos no sul da América do Sul foram capturadas por dois conjuntos de sismógrafos instalados no norte da América do Norte (em Nielson e Yellowknife).

Se você olhar um globo terrestre vai observar que a linha reta que liga o local do terremoto e o local dos sismógrafos passa por dentro da bola sólida que está no centro da Terra. Ou seja, seus dedos estão batendo no sul da América do Sul e você está captando o ruído no norte da América do Norte.

Se nada mudasse no interior do planeta, os dados obtidos a partir de cada terremoto seriam idênticos, mas não é isso que ocorre. Faz anos que sabemos que essas mudanças que são captadas são causadas pela rotação do core em relação às crosta.

Nas últimas décadas o core girou mais rápido que a crosta, se adiantando aproximadamente um grau por ano. Já no período desse experimento, ele parou de girar mais rápido e começou a girar mais lentamente que a crosta. E essa inversão fez com que um ponto na superfície do core que estava embaixo de um local da crosta avançasse por alguns anos e depois se atrasasse, voltando ao mesmo lugar.

É como dois carros numa estrada: eles começam lado a lado, mas um deles aumenta a velocidade e se afasta. Quando ele diminui a velocidade, o segundo carro, que estava atrás, alcança o da frente e eles novamente estão alinhados. Imagine que um carro é a crosta do planeta e outro é o core. Nesse esquema, temos dois momentos em que os carros estão alinhados e dois momentos em que a crosta e o core estão alinhados.

Como a crosta e o core estão alinhados nesses dois momentos, os cientistas esperavam que a propagação do som fosse idêntica nos dois momentos. Mas não foi isso que observaram, havia diferenças importantes quando essa comparação foi feita. A única maneira de explicar essas diferenças é que entre esses dois momentos o formato do core mudou. É como se na primeira vez que os carros estavam alinhados a janela de um deles estivesse fechada, e na segunda vez que alinharam, a janela estivesse aberta.

E foi assim que descobrimos que essa enorme bola quente e sólida que ocupa o centro do planeta muda de forma.

Mais informações: Annual-scale variability in both the rotation rate and near surface of Earth’s inner core. Nature Geoscience. 2025

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