1. A Indignação e o Paralelo Histórico

“Por quanto tempo mais os remédios óbvios serão negados?!”

A frase, dita por Winston Churchill no Parlamento em maio de 1938, ecoa até hoje — mas não apenas na esfera política da época. Ela traduz o sentimento de urgência que muitos de nós experimentamos ao observar as repetidas frustrações no combate ao aquecimento global. A meta de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C parece cada vez mais distante, e testemunhamos a relutância global em adotar medidas simples e eficazes, como estabelecer um preço global para as emissões de gases de efeito estufa.

Contudo, ao revisitar a história de Churchill retratada na série documental “Churchill em Guerra” (Netflix), percebemos como essa narrativa prende nossa atenção e nos desafia a encontrar pontos em comum com as atuais batalhas climáticas.

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2. Churchill: O Homem, O Mito, O Herói

Os quatro episódios do documentário pintam o retrato de um personagem que encarna simultaneamente:

  • Destemor Quase Irreal: Desde a juventude, quando se atirou sobre um pinheiro para evitar rendição em uma brincadeira perigosa, até sua participação em 37 incursões na chamada no man’s land durante a Primeira Guerra Mundial.
  • Liderança Inspiração: Na Segunda Guerra, sob o bombardeio alemão, Churchill motivou a nação a resistir, mesmo em condições extremamente desfavoráveis.
  • Diplomacia Astuta: Conseguiu trazer os Estados Unidos de Franklin Roosevelt para o conflito, garantindo uma virada decisiva para os Aliados.
  • Humano Demasiado Humano: Foi derrotado eleitoralmente logo após o fim da guerra, mas, em 1951, retornou ao poder, carregando o peso de suas vitórias e derrotas.

O que fascina, sem dúvida, é como um indivíduo pode se manter firme diante de perigos tão tangíveis quanto o nazismo. Essa firmeza, aliada a uma capacidade de mobilizar recursos e pessoas, constitui um exemplo poderoso — e uma lição relevante — para quem busca articular esforços contra as mudanças climáticas.


3. Lições da Segunda Guerra para o Combate Climático

A Segunda Guerra Mundial é lembrada como um raro momento de consenso global (pelo menos entre as potências aliadas) contra um mal evidente. Nesse contexto, líderes como Churchill, Roosevelt e De Gaulle uniram grande parte do mundo industrializado em torno de um objetivo comum: conter o avanço de regimes totalitários que ameaçavam a liberdade e a vida de milhões de pessoas.

  1. União dos Países
    • O conflito mobilizou recursos e pessoas em escala sem precedentes.
    • Hoje, espera-se mobilização semelhante para enfrentar a crise climática.
  2. Inovações Tecnológicas
    • A guerra impulsionou a criação de tecnologias militares e logísticas.
    • O combate ao aquecimento global precisa do mesmo impulso em energias limpas e soluções de remoção de carbono.
  3. Desfecho Favorecido pelo Acaso
    • Dunquerque: Condições meteorológicas favoráveis permitiram a evacuação de 330 mil soldados britânicos.
    • Erro de Hitler: Abertura de duas frentes de combate (contra a URSS) e ataque japonês a Pearl Harbor, provocando a entrada dos EUA na guerra.
    • Lição: No caso do aquecimento global, não podemos contar com a sorte; tampouco as mudanças climáticas “errarão”.

4. A Resistência Contra a “Solução Óbvia” do Preço do Carbono

Enquanto Churchill clamava por firmeza no rearmamento frente à ameaça nazista, hoje se clama por firmeza na regulação de emissões de GEE, seja por meio de impostos sobre carbono ou pela criação de um mercado global de créditos de carbono. Apesar de parecer uma saída lógica, muitos governos e corporações resistem, temendo impactos econômicos no curto prazo e apostando apenas em soluções tecnológicas ou no “milagre” de que a ciência resolverá tudo sozinha.

Essa opção se assemelha ao que seria, na Segunda Guerra, abandonar a resistência a Hitler e apostar integralmente na invenção da bomba atômica — algo que poderia ter custado a liberdade do mundo inteiro.


5. Segunda Guerra x Aquecimento Global

Aspectos Segunda Guerra Mundial Aquecimento Global
Ameaça Expansão Nazista e países do Eixo Colapso climático global
Mobilização Aliança de boa parte do mundo industrial Frágil e conflituosa (COPs, acordos climáticos)
Fatores de Sorte Dunquerque, erros estratégicos do Eixo Inexistentes: não há “erros” das mudanças climáticas
Tecnologia Focada em armamentos e logística militar Necessária para energias limpas e remoção de carbono
Desfecho Vitória aliada, reconstrução pós-guerra Indefinido; manutenção do status quo ameaça segurança global

6. Caminhos para um Futuro Possível

  1. Políticas de Precificação do Carbono: Estabelecer um preço global às emissões, incentivando transição rápida para fontes limpas.
  2. Cooperação Internacional: Criar “alianças verde-aliadas”, algo análogo à coalizão que derrotou o nazismo.
  3. Engajamento Privado: Empresas e investidores devem integrar a responsabilidade climática em seus modelos de negócio.
  4. Pressão Popular: Cidadãos podem pressionar governos a agir, reforçando que as metas de emissões e o fim de subsídios a combustíveis fósseis sejam prioridades.

 

Conclusão

A história de Churchill nos ensina sobre persistência, liderança e a importância de unir esforços diante de um perigo iminente. Na Segunda Guerra Mundial, a vitória dos Aliados contou com um misto de estratégia, diplomacia e, inegavelmente, sorte. No caso do aquecimento global, não teremos essa segunda chance.

Perguntar “até quando os remédios óbvios serão negados” é reconhecer que as soluções existem — cabe a nós aplicá-las com a mesma determinação com que Churchill defendeu seu país em uma de suas horas mais sombrias. Talvez, assim, conseguiremos honrar nossas responsabilidades para com as próximas gerações.

“Fico feliz que nossos predecessores tenham sido responsáveis em sua decisão e tenho consciência plena de que o mesmo dever cabe a nós, em relação a nossos descendentes.”

Que essa indignação se transforme em ação. Afinal, as mudanças climáticas não vão cometer erros de cálculo, nem adiar sua investida. A hora de agir é agora.

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