Dan Baumgardt, University of Bristol
De pele a cabelo e até secreções como lágrimas, a aparência externa do corpo pode oferecer pistas sobre o estado de sua saúde.
Mas há outra parte da anatomia que é frequentemente negligenciada neste sentido: os pés.
Os pés são conectados a tramas de fibras nervosas do cérebro para que você possa ficar em pé, equilibrar-se e mexer os dedos dos pés. Eles também são irrigados por vasos sanguíneos, que vão até o coração.
A aparência e a função de nossos pés, portanto, podem indicar infecções virais, doenças do sistema cardiovascular e até mesmo distúrbios neurológicos. Aqui estão alguns exemplos.
Doença mão-pé-boca (DMPB)
O sarampo geralmente começa a dar sinais no rosto ou na boca, como pequenas manchas que parecem grãos de açúcar. A Pitiríase versicolor, um tipo de infecção fúngica, tende a começar e permanecer no tronco. As razões pelas quais elas tendem a afetar essas áreas não são bem compreendidas.
A doença mão-pé-boca (DMPB) começa exatamente nessas áreas. É causada por um vírus conhecido como coxsackie e tende a produzir manchas róseo-avermelhadas em relevo, que podem formar bolhas que estouram depois de alguns dias. O nome, no entanto, é um pouco equivocado – as erupções também podem afetar as pernas e nádegas. A observação de uma nova erupção cutânea nos pés deve levar o médico a considerar a DMPB.
A DMPB é uma doença comum na infância e é muito contagiosa. Felizmente, ela também costuma ter curta duração, desaparecendo sem tratamento após alguns dias.
No entanto, ela não deve ser confundida com febre aftosa. A febre aftosa é um vírus diferente da DMPB que afeta (principalmente) animais com cascos fendidos, como vacas e ovelhas. Essa é a doença que resultou em uma epidemia no Reino Unido em 2001.
Coração, vasos e pés
Nosso sistema circulatório fornece sangue a todas as partes do corpo, desde o topo da cabeça até as pontas dos dedos dos pés. Quando os vasos sanguíneos chegam a essas extremidades, como galhos de uma árvore, eles já se ramificaram e ficaram muito menores.
Em algum momento, todos nós já sentimos o desconforto de ter os pés gelados, especialmente quando andamos descalços pela casa ou durante os dias mais frios. É normal que os pés fiquem frios ao toque, mas eles não devem mudar da cor normal da pele para azul, nem devem ficar dolorosamente frios.
Sintomas graves de descoloração e dor podem apontar para um fenômeno chamado síndrome do dedo azul. Ele pode ser desencadeado por pequenas massas denominadas microêmbolos, compostas por bolinhas de colesterol. Esses êmbolos passam facilmente por vasos grandes, mas têm dificuldade de passar à medida que veias e artérias se tornam menores.
Ao atingir os vasos menores dos pés, eles finalmente ficam presos, cortando o suprimento de sangue. Os tecidos ficam sem oxigênio, fazendo com que os pés mudem de cor e fiquem doloridos.
Em casos graves, a síndrome dos dedos azuis pode levar à morte do tecido, à ruptura e à formação de gangrena, o que pode exigir a amputação dos dedos ou até mesmo do pé inteiro.
Essa condição rara é às vezes chamada de “trash foot” (“pé de lixo”), devido à forma como os pés ficam descoloridos.
Qual é a causa subjacente dessas pequenas bolinhas de colesterol? Provavelmente aneurismas e aterosclerose, vasos que se dilataram ou endureceram a montante dos pés. Quando o pé de lixo ocorre, geralmente é após o tratamento cirúrgico dessas condições, como o reparo do aneurisma da aorta. Os procedimentos rompem o vaso, o que pode causar o rompimento de êmbolos.
Assim como o pé de lixo, outros sinais nos pés podem apontar para uma doença cardiovascular. Inchaços vermelhos elevados que aparecem nos pés (assim como nas mãos) podem indicar uma infecção do coração chamada endocardite bacteriana. Elas podem ser indolores – nesse caso, são chamadas de lesões de Janeway – ou doloridas, que são chamadas de nódulos de Osler.
O sinal de Babinski
Os dedos dos pés também podem sinalizar problemas no sistema nervoso.
Se você já assistiu a ER ou Grey’s Anatomy e ouviu um dos personagens gritar “plantares ascendentes!” durante o exame de um paciente, você sabe que eles estão se referindo ao reflexo de Babinski. Depois de encontrar o plantar ascendente, o médico pode ter franzido a testa de preocupação – e por um bom motivo.
O sinal de Babinski é um teste simples que envolve acariciar a sola do pé com um instrumento de ponta grossa para verificar a resposta dos dedos. Esse é o reflexo plantar – “plantar” relacionado à sola do pé. Normalmente, quando esse reflexo é acionado, os dedos dos pés devem se curvar ou flexionar para baixo em direção à sola.
Quando o dedão do pé aponta para cima e os dedos menores se abrem, essa é uma resposta “plantar ascendente”, também conhecida como sinal de Babinski, em homenagem ao neurologista Joseph Babinski, que a descreveu pela primeira vez. É normal encontrar essa resposta em bebês, cujos sistemas nervosos estão em desenvolvimento e não são capazes de realizar todas as funções motoras de um adulto.
Em adultos, no entanto, encontrar o sinal de Babinski é uma história completamente diferente. Mais comumente, isso significa que um derrame está interrompendo o circuito cerebral normal que controla os pés.
Outras causas incluem esclerose múltipla e (raramente) intoxicação por drogas. Em algumas pessoas saudáveis, entretanto, o sinal de Babinski pode ser observado durante o sono profundo.
O escopo é muito mais amplo do que apenas essas condições. Diabetes, insuficiência renal e até mesmo distúrbios da tireoide podem afetar os pés. Eles são, portanto, indicadores importantes de nossa saúde, por isso é essencial fazer exames regulares e procurar orientação médica se notar qualquer dor, descoloração ou erupção cutânea.
Dan Baumgardt, Senior Lecturer, School of Physiology, Pharmacology and Neuroscience, University of Bristol
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