A iniciativa da Sabesp de interceptar os esgotos de São Caetano do Sul e tratá-los na Estação de Tratamento de Esgotos ABC representa um avanço significativo em termos de gestão ambiental e saúde pública. A proposta original de evitar que esgotos não tratados sejam despejados nos cursos d’água locais, como o Ribeirão dos Meninos e o Rio Tamanduateí, é uma medida essencial para preservar os ecossistemas aquáticos e garantir a qualidade de vida dos moradores da região.
No entanto, a formação de uma Sociedade para Fins Específicos (SPE) para a comercialização da água de reúso produzida pela ETE ABC gera questionamentos importantes. A venda desta água ao Polo Petroquímico, embora seja uma prática sustentável por aproveitar recursos hídricos reciclados, diverge do objetivo inicial de diluição dos poluentes nos rios locais.
Pontos Críticos
- Desvio dos Efluentes Tratados: Ao redirecionar os efluentes tratados para uso industrial, reduz-se a quantidade de água disponível para diluir poluentes nos rios da região. Isso pode comprometer a capacidade de recuperação dos cursos d’água, que continuam recebendo outras fontes de poluição menos controladas.
- Dupla Tarifação e Benefícios Econômicos: A população local contribui com tarifas para o tratamento dos esgotos, esperando como contrapartida uma melhoria na qualidade dos rios urbanos. Entretanto, a comercialização da água tratada gera uma receita adicional para a Sabesp sem necessariamente reverter benefícios diretos à população que inicialmente financiou a infraestrutura de tratamento.
- Transparência e Gestão dos Recursos: A falta de clareza sobre como os recursos financeiros obtidos com a venda da água de reúso são reinvestidos na melhoria dos serviços de saneamento básico é uma questão de transparência e gestão pública. É crucial que haja uma comunicação efetiva sobre como esses recursos estão sendo utilizados para benefício da comunidade local.
Sugestões de Melhorias
- Revisão da Política de Reúso de Água: Seria apropriado reavaliar as condições sob as quais a água de reúso é vendida, garantindo que parte dessa água seja utilizada para a recuperação dos rios locais.
- Investimento em Infraestrutura Verde: Promover técnicas de infraestrutura verde que aumentem a infiltração de água no solo e a capacidade natural de diluição dos cursos d’água.
- Maior Participação Comunitária: Envolver a comunidade local nas decisões sobre a gestão dos recursos hídricos, especialmente em projetos que afetem diretamente o meio ambiente urbano e a qualidade de vida dos cidadãos.
A situação apresentada ilustra os desafios de equilibrar as demandas econômicas e ambientais na gestão dos recursos hídricos. Embora a venda de água de reúso para indústrias seja uma prática sustentável, é fundamental que as políticas implementadas alinhem-se com as expectativas e necessidades da comunidade local, garantindo que os benefícios ambientais não sejam sacrificados por ganhos econômicos imediatos.