A história de São Caetano do Sul raramente menciona a navegação nos rios Tamanduateí, mas documentos dos séculos 16 ao 19 lançam luz sobre essa história intrigante. A identificação precisa do verdadeiro Tamanduateí, em relação aos cursos d’água atuais, é um enigma fundamental.
Após anos de pesquisa, percebe-se que os nomes dos rios, muitas vezes tupis, foram alterados e adulterados por grileiros e falsificadores de documentos de terras nos séculos 19 e 20, distorcendo a história oficial da região do ABC e bairros vizinhos de São Paulo.
Um Registro Paroquial de São Bernardo de 1856, referindo-se ao Rio Tamanduateí como Rio dos Meninos, revela a mudança no nome do rio. A confluência entre o atual Rio dos Meninos e o Tamanduateí era crucial na época.
A dúvida sobre o verdadeiro Tamanduateí surgiu devido ao desmatamento de suas margens no século 18, levando ao seu apelido de “Rio dos Meninos”. Este nome estava associado ao Sítio dos Meninos, da Fazenda Boa Vista, comprada pelo Mosteiro de São Bento em 1803.
O Rio Tamanduateí original já estava sofrendo com a diminuição de suas matas ciliares durante o século 18. Em meados do século 19, os moradores da Mooca reclamavam da redução do volume de água do rio.
Uma pesquisa realizada em 1825 pelo tenente coronel engenheiro José Antonio Teixeira Cabral indicava que o rio ainda era navegável. No entanto, as mudanças na paisagem da várzea do Carmo e as enchentes levaram a planos de construir um lago na confluência do Rio dos Meninos com o Tamanduateí, que seriam predecessores dos “piscinões”, mas o projeto foi abandonado.
Fotos da época mostram que o Rio dos Meninos era mais largo comparado ao que é hoje. A economia local dependia da navegação, com a Fazenda de São Caetano mantendo uma frota de canoas para o transporte de produtos.
A canoa grande, feita de peroba-mirim, podia transportar mil telhas, madeira e lenha, representando um aumento significativo na produtividade. Os registros mostram que os canoeiros eram preferencialmente índios administrados após o fim da escravidão indígena em 1757.
A navegação do rio estava intimamente ligada à produção dos três fornos da fábrica de cerâmica da fazenda, que operou até 1871, quando a escravidão em São Caetano foi abolida.
Essa história revela como a geografia e a economia da região foram moldadas pela navegação nos rios Tamanduateí e Rio dos Meninos nos séculos 18 e 19. Para mais conteúdo informativo, inscreva-se na newsletter do Portal São Caetano do Sul NET.
Fonte: Texto de José de Souza Martins, Revista Raízes, Número 64.